"Sombra e o Zé".

Olhos tão sensíveis.

As vezes me pergunto: -Será que me enxergam?

Me aguarda, me agrada, mima de alegria.

Saio, o deixo.

Quieto, cabisbaixo, faminto, silencioso.

Descansa cabeça por entre as patas.

Olhos fechados, mente ativa.

Sombra é a cópia perfeita de mim.

Perdemos muito mais que os nossos pelos, pelos cantos da casa.

Perdemos as vezes a vontade de permanecer.

Não ele.

Ele nunca.

Sombra só precisa que eu esteja perto.

E vejo como a simplicidade é a verdadeira grandeza da vida.

Porque penso que não tenho nada a oferecer.

Mas, não para ele.

Para Sombra sou significativo.

Movimento seu cotidiano.

E puta merda, como desejaria que Sombra soubesse o que faz por mim.

Nos encontramos num dia desses e tal.

E como quem não quer nada a vida cria dessas.

Nos fisga do fundo do poço em uma única alçada.

Só não sei quem veio primeiro.

Eu? Ele?

Viemos Juntos.

Faltava rumo para ele.

Rumo é algo que penso muito sobre.

E nesse ponto, somos dois fodidos.

Sombra foi parar em meu carro.

Naquela noite o rumo foi o de minha casa.

Lugar esse que hoje é nosso.

Sombra para Mim e eu para Ele.

Sintonia que nem ouso descrever.

Nem quero.

É desnecessário quando se trata de nós.

Nós dois.

Sorriso nos lábios ao vê-lo em minha frente.

Seus olhos pequeninos, ligeiros, cheio de brilho e luz.

Como se retribuísse o riso porque sabe que é hora de caminhar.

Como preciso de sua luz.

Como nossa caminhada me renova.

Hoje sei que rumo jamais nós faltará.

Dizem que na vida precisamos de mapas que indique onde tudo se dará.

Mas, com o Sombra eu descobri que muito planejar nem vale de nada.

Nunca sabemos o que há de surgir em nossa estrada.

Feliz daquele que tem consigo um amigo, ao qual julgar não reconhece só faz lamber a sua face, roçar por suas pernas, latir ao som de sua voz, e deitar-se ao seu lado em qualquer momento, apenas para dizer que estará sempre ali.

Presente.

Como uma sombra para você.

Esse é o Sombra.

Sombra e o Zé.