Produto sem conta

Ai, meu amigo, que eu venho de lá

Donde essa rara sociedade foi me buscar,

De modo tal qual eu vi no jornal

“Preciso”, “precisa-se” de gente legal

Que faça sem conta num tempo que vai

Um produto-trabalho somados aos ais...

De mim, de você, de nós todos, da gente...

Que está pra nascer; eu sei???!!!

Tem que haver movimento

Que rompa e acabe esse sofrimento.

Ai, meu amigo, que eu venho de lá

Donde o Sol tão rosado vai se pondo...

De maneira tão mal que me vi no jornal...

Cansado, deitado, de modo tão mal.

É feito de mim um produto sem conta

Que agita a cidade; modelo burguês

Que a nós todos aplicam o escárnio da vida

E o seu descarrego, de forma imortal

Dão-me um emprego de baixo salário

Tiram-me o sossego, me deixam tal qual.

Vicente Freire – 23/09/1982.