Mar
Mãe mar
Engole minha visão
Eu nasci de você
Nas minhas mãos
Mãe
Mar atrás da minha visão
Arrebenta meus olhos fechados
Lágrimas de sal
E eu
Um parto
Engulo você
Engravido do mar
Sou minha mãe
Sou mãe do mar
Sou o mar do meu corpo
De noite, sozinho
Te digo coisas que você não sabe
Mas que seu corpo salgado concorda,
Você não arranca os olhos de mim
A noite inteira enquanto eu avanço
Recuo, avanço, recuo
Arrebento seus olhos
Parto sua visão
Em lágrimas doces
Sou o mesmo sobre a cidade e sobre a areia vazia
Sou o mesmo sobre você e fora
Melancolia teimosa
Silêncio pós fôlego
Sou o mesmo sobre a carne e sobre o espírito
Sobre a água e sobre o sal
Sobre o mar e sobre a areia
Cansado do impacto
Com o carinho da onda mais rasa
Vou engolir o mar
Vou engravidar o mar
Vou partir o mar
Vou engoli a areia vazia
Vou engolir a cidade
Vou engravidar a areia e a cidade
E você nascerá sobre ela
Depois vou partir
Vou partir, vou parir e vou partir
Ficarei atrás da sua visão
eu sou sua mãe
Te mostro coisas que você não sabe
Mas que seu corpo salgado concorda
Você não arranca as mãos de mim
A noite inteira avançou
Recuou e
avançou e
Me inundou de uma alegria teimosa e
Agora meus olhos estão fechados,
Arrebentam de fora
pra dentro
Existe um mar no meu ventre
Lágrimas do vão entre a areia e a cidade
Escapam do doce vão da minha visão
Sou o mesmo
além
e antes de mim
Sou a noite silenciosa
A melancolia e a alegria
Sou seu corpo
De água
Salgado
Nascendo
Sou mãe de tudo
Eu sou o mar.