Mar

Mãe mar

Engole minha visão

Eu nasci de você

Nas minhas mãos

Mãe

Mar atrás da minha visão

Arrebenta meus olhos fechados

Lágrimas de sal

E eu

Um parto

Engulo você

Engravido do mar

Sou minha mãe

Sou mãe do mar

Sou o mar do meu corpo

De noite, sozinho

Te digo coisas que você não sabe

Mas que seu corpo salgado concorda,

Você não arranca os olhos de mim

A noite inteira enquanto eu avanço

Recuo, avanço, recuo

Arrebento seus olhos

Parto sua visão

Em lágrimas doces

Sou o mesmo sobre a cidade e sobre a areia vazia

Sou o mesmo sobre você e fora

Melancolia teimosa

Silêncio pós fôlego

Sou o mesmo sobre a carne e sobre o espírito

Sobre a água e sobre o sal

Sobre o mar e sobre a areia

Cansado do impacto

Com o carinho da onda mais rasa

Vou engolir o mar

Vou engravidar o mar

Vou partir o mar

Vou engoli a areia vazia

Vou engolir a cidade

Vou engravidar a areia e a cidade

E você nascerá sobre ela

Depois vou partir

Vou partir, vou parir e vou partir

Ficarei atrás da sua visão

eu sou sua mãe

Te mostro coisas que você não sabe

Mas que seu corpo salgado concorda

Você não arranca as mãos de mim

A noite inteira avançou

Recuou e

avançou e

Me inundou de uma alegria teimosa e

Agora meus olhos estão fechados,

Arrebentam de fora

pra dentro

Existe um mar no meu ventre

Lágrimas do vão entre a areia e a cidade

Escapam do doce vão da minha visão

Sou o mesmo

além

e antes de mim

Sou a noite silenciosa

A melancolia e a alegria

Sou seu corpo

De água

Salgado

Nascendo

Sou mãe de tudo

Eu sou o mar.

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 14/12/2023
Reeditado em 14/12/2023
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