ENCONTRO MARCADO

Daqui a pouco haverá o dia em que vou encontrar o minuto que vai mudar minha vida. Não sei como ele é, se é um minuto corpulento da altura de 60 segundos, ou se será chocho e mirrado, com menos da metade do peso numérico que devem ter os minutos completos. Ou será que é um minuto amputado, mutilado pelo fino corte da navalha do repentino instante, tão abrupto, tão inesperado, tão súbito e brusco, como um carro que nos atropela na faixa de pedestre vindo na contramão.

Daqui a pouco haverei de entrar no minuto como sempre até então fui, e sairei dele como nunca sequer seria se não fosse ele. Transmutar-me-ei como uma larva se transforma em borboleta, após tecer seu casulo e me rearranjar em crisálida, até abrir asas que antes não tinha e correr o risco de voar pela primeira vez.

Que minuto é esse que me levará do hemisfério em que estou ao hemisfério que me é oposto? Que átimo de momento é este onde irei fluir de um lado para o outro de mim, como as águas de afluentes separados se encontram a drenar um rio? Onde se encontra esse minuto oculto e misterioso? Em que esquina ele me espreita?

Porém, não há quem não passe na vida a aguardar esse quase fatídico encontro. Todos os minutos anteriores, todas as horas prévias, todos os dias, meses e anos antecedentes, haverão de se tornar antigamente, a constituir tudo aquilo que vinha antes do que virá depois. Infelizes aqueles que nascem, crescem, amadurecem, envelhecem e morrem, sem ter em sua retilínea existência um divisor de águas que lhe mude o rumo próprio de sua história. Afinal, de que valia serve uma vida sem marcos ou pontos de virada?

O minuto que irá mudar minha vida, pode ser um minuto ditoso e exultante, como aquele instante em que se sabe que acertou na mega sena, ou o exato minuto em que seu primeiro filho nasce. Mas também pode ser um minuto sinistro, infausto e trágico, como uma criança que descobre que perdeu sua mãe, ou a viuvez precoce de um grande amor jovem. Seja qual for o minuto que mudará os rumos da minha vida, daqui a pouco deverei me encontrar com ele.

Quando Júlio Cesar atravessou o Rio Rubicão (“alea jacta est”), ele não só mudou o curso da sua vida, como também de Roma e da História. Quando Isaac Newton desvendou a “lei da gravidade”, a Humanidade evoluiu em sua trajetória. Quando Alexander Fleming descobriu a penicilina, a Medicina nunca mais foi a mesma. Não sei quem criou a roda, mas a partir daí tudo mudou.

Em que daqui a pouco estará me esperando meu minuto?

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 14/12/2023
Reeditado em 15/12/2023
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