Seres cinzentos

Seres cinzentos à janela

Passam tão despercebidos

Nos instantes da aguarela

De momentos comedidos

Que passam antes da tela

Ter tempo de os ver vertidos.

Desconhecidos à margem

Do rio que os vê passar

São de ninguém a coragem

Que à foz os faz chegar.

Sobe à tona na passagem

A água turva a chamar.

E as tintas da cor da vida

Murcham-se antes da visão

Do que foram na medida

Daquilo que hoje não são.

Talvez na abstracção sentida

Bem fundo se encontrarão.