O POETA INVISÍVEL

E assim sou ausente de mim mesmo,

Abandonei muitos eus nos silêncios

Das trilhas (e eles deixam venenos.

Onde passam, a dor é um presente).

E sem ter o que chamar de meu, vejo,

Da arquibancada destas paredes,

As minhas desgraças numa sequência

De tic-tacs mudos, insistentemente.

Nada se mexe no pavor das três,

O poste pisca, apaga, acende…

Vem, deste soneto inexistente,

O último pacote da despensa,

O pó da prateleira, o poema

Da seda que ainda me sustenta.