plateia e o espetáculo

Na maquinaria do tempo, tudo é nada,

Vida vasta, vagabunda, imersa

Em sua corrente, é ouro ou qualquer

Metal, vasto é o sonho, vasto o sonhador.

Nada desmerece esta rua sem saída,

Este bosque sombrio, este calor abrasador

À beira do paraíso, onde a roda gira e no

Seu epicentro nos agarramos para não voar, ou talvez,

Para não adentrar o reino onde sombras compõem

O real mais sólido e possui o aluguel, o vizinho ao lado,

A criança que chora, o que há com essa criança?

Talvez seu espaço seja feito de rachaduras, ou

Seu apavoro trincado seja seu leal irmão,

E aquela mulher, grávida, semblante amarrado,

Nem um bom dia, sequer um sorriso em

Tantos anos de cruzamentos, mas tudo é fogo nesta

Terra encantada, dragões, serpentes, o soco ainda

A ser desferido, ela se vai e ele se foi,

Ela partiu e ele me deixou, mas tudo bem, em breve

Partirei também! Pois somos todos peregrinos do além,

O sobrenatural é nosso núcleo mais resistente,

E há esse sol, essa nuvem pensativa, esse céu que engole o mar,

Esta praia que me comove, estas árvores, estas janelas

Abertas contra a luz, o espetáculo é um êxito,

Uma temporada de milhões de anos e que haja aplausos,

E que haja roteiros, somos todos dramaturgos e somos

os atores, e no meio de tudo somos a uma plateia gulosa.