e como eu amava

Os passos são verbo nas pernas,

A língua do espaço murmura,

No retorcido caminho do crescer,

O rastro se tece onde a flor se aninha.

A terra, parto de sua própria beleza,

Os filhos, riso que desliza sob o céu,

O caminho breve, contudo encharcado

Com vinho, café, ternura das mãos.

A memória não retém seus olhos,

Mas o olhar, lago fotogênico,

Onde o passado, como criança brincando,

Navega, e eu amava, sabendo dela viva.

Seu sorriso, abertura onde meu labirinto

Tremia e vacilava, cordas trêmulas,

Na onda insegura, desinência improvável,

A poesia, única testemunha.

Tudo incriado, turvando o ventre,

Molhando a lembrança, fora, do lado,

Na ausência, pretérito fez presente,

Eu amava o não-criado, a imaginação.

Coração, treva viscosa, não delata,

Amores guardados, como a gratidão,

Saudades, tentativas de refazer trilhas,

Colher trevos na margem do rio da vida.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 15/01/2024
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