vida e forma

Sob a pele da porta, uma flor desabrocha,

Singelo percurso emerge, flor pequena encharcada

Pelos poros das árvores que geme seu fogo à margem

Dos que, sem roupa, experimentam o corpo

Como a chama que a brasa entranhou na madeira sedenta,

Voragem dos destinos puderam saber o que procuravam.

Ternura, febre, boca de dente e de palavra,

Transmuta com a língua a iguaria doce, creme de alecrim.

Poros, o arco se abre e a fonte e o destino,

Onde todos os homens descem para saber o próprio nome.

Árvore desejada, sementes, a flor encabulada à espera

Do sol mais clarividente. Ele já sabe, ela sabe

Que as hortaliças pavimentam a terra

Que desemboca nas vísceras da noite.

Ela se joga em seus braços, ele a prende e a levanta,

Lembrando a lua, a estrela mais campestre.

Seu vestido se abre e o tesouro sempre esteve

Entre aqueles pedregulhos. Foram palavras imprevidentes,

Mas o rio correu seu imenso continente

Enquanto o mar já conhecia o seu passado.

Mulher de pernas impaciente, o espaço é sua forma,

Não lamenta o tempo desgovernado. Só o agora

Lhe encobre as vestes, e sua pele cobre a planície,

Apaziguando as pedras.

Corpo silenciosamente adornado de delícia,

Do sumo que faz da fruta um vendaval de trigo e esperança.

Mistérios e o minério alumiando o escuro e soprando

Os barcos em direção ao que cada um sabe

Sobre o tremor que a vida lhes reserva.

Seus veios ventilados, sua carne enquanto o sangue lhe corre,

E nada sei, salvo que meu amor escorre

Como uma gota em folha consumida pelo sol.

Do outro lado, os que a conservam em sua memória,

Que souberam dos antepassados que todo esse mundo

É uma flor drenando a terra com sua fome.

Ela mergulha nas águas, orgia, desejo,

A chama que a boca das coisas translucida

Alucina com seus corpos.

Estremo, o espírito do tempo não se dobra,

Apenas permite a passagem, cujos mitos fizeram

O milharal que alimenta a tribo mais secreta.

O rito, a caverna, o abraço que esmorece a dor

E alegra os campos. Então tudo verde,

As árvores são frutas, a terra é a colheita mais iluminada

E já não tememos o fogo, porque o fogo tornou-se nossa morada.

O corpo dela onde o regato sangra de amor,

E um bago de esperança explode no céu

Enquanto a luz pinga na água perfumada.

Ela se banha, mergulha sua cabeça,

Cabelos encharcados e corpo telúrico regozija

Com seio que espirra leite de cabra na boca do tédio

E o resfria e o adormece e amolece.

Essa terra ama e é amada, o trono de uma vida é erguido.