Prisma

Eu, quando apareço,

Como me assemelho

Ao feixe luminoso

Refletido na gota

D’água em queda,

Nas imagens que projeto.

O sol no súbito

Clarão de um reflexo

Em um ângulo do olhar

Sobre o charco

Apaziguado, um instante.

O espectro no pântano;

As sombras que as brumas

Fazem, ao passearem

Umas entre as outras.

O tráfego da Terra

No céu da lua:

O eclipsar da sua

Estrela dançante.

O brilho oscilante

De uma pálida mariposa

Esvoaçante e azul,

Cada vez mais distante,

Através da escotilha universal

Da saudade.

Um periscópio para espreitar

Acima do oceano do que existe,

Não possuo;

Porque estou imerso

Até os ossos nele,

E sou ele – e não há

Sobrevoos estanques.

A realidade mesma

Do mergulho, do ser parte,

Do arranjo fino e finito

Da matéria, das cadeias

Intercomunicantes

De teias de aranhas

Até a borda do sem-fim

Do mundo.

Mas, aqui e agora,

Este brilho de luz,

No qual eu me vejo a mim

Em outra coisa.

Eli Jardel Alexandre
Enviado por Eli Jardel Alexandre em 23/02/2024
Código do texto: T8005482
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