Prisma
Eu, quando apareço,
Como me assemelho
Ao feixe luminoso
Refletido na gota
D’água em queda,
Nas imagens que projeto.
O sol no súbito
Clarão de um reflexo
Em um ângulo do olhar
Sobre o charco
Apaziguado, um instante.
O espectro no pântano;
As sombras que as brumas
Fazem, ao passearem
Umas entre as outras.
O tráfego da Terra
No céu da lua:
O eclipsar da sua
Estrela dançante.
O brilho oscilante
De uma pálida mariposa
Esvoaçante e azul,
Cada vez mais distante,
Através da escotilha universal
Da saudade.
Um periscópio para espreitar
Acima do oceano do que existe,
Não possuo;
Porque estou imerso
Até os ossos nele,
E sou ele – e não há
Sobrevoos estanques.
A realidade mesma
Do mergulho, do ser parte,
Do arranjo fino e finito
Da matéria, das cadeias
Intercomunicantes
De teias de aranhas
Até a borda do sem-fim
Do mundo.
Mas, aqui e agora,
Este brilho de luz,
No qual eu me vejo a mim
Em outra coisa.