Artes do Engano

 

Um quarto de luz parou o tempo

Entre as marquises dos meus olhos.

Galhos secos a brotar um novo dia

Diante dos sonhos de uma noite vazia.

 

A boca do dia em outras bocas selam,

Acordam a cidade em atos cênicos.

Pinóquios vacilam no trânsito aberto

Onde transitam os colarinhos brancos.

 

O cálice afastou o medo do absinto 

O cheiro da lata adormeceu o santo.

O labarismo improvisou o engano

Em cima do ônibus num espetáculo.

 

O ponteiro dispara e o escândalo termina

No asfalto cru dribla-se em todas esquinas.

O comércio para, a indústria cambalista rotula

Os anjos que a sociedade crucifica.

 

Lá vão eles, meninos fiéis ao grupo,

Cruzam as ruas cheirando a morte,

Aliciam a sorte a engolir pó, sorvem lolo.

O que pegam dividem com os grandes,

Não menos artistas nem menos aliciadores.

 

A dor que escraviza toca a bola da vida,

O comércio da calçada solta o vil metal,

Faz que não sente, diz que se faça

Tranquilidade garantida para os que registram.

 

Faz que não sente, diz que se faça

E és  que meninas dançam como bailarinas

Ao ritmo do semáfaro, fank da vida

Descanso, lida e um estômago vazio.

 

Enquanto isso, os pais empresários

Esperam os filhos com o ganho.

Enquanto outros, seguem esquecidos

No buraco fétido e negro dos sonhos.