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A DOIS

Ah! Esse louco abandono,
que me toma, todo, inteiro,
e me mantém prisioneiro,
acorrentado e cativo
a esse teu corpo moreno,
tão macio, tão pequeno...
O mais terno lenitivo.
Eu me perco em desatinos
quando, cedendo ao instinto,
te aconchego ao meu desejo
e sinto, morrendo num beijo,
que a tua hora é chegada.

Vamos juntos na viagem,
que nos leva de passagem,
de roldão à zona morta.
É um segundo somente,
mas tão intenso e potente
que me parece infinito.
E, enquanto dura o teu grito,
livre corro sem barreiras,
sou rio, sou cachoeira
desaguando, lá, no mar.

A mim não importa nada,
frio, guerra, morte, fome...
Tu mulher, eu um homem
- o mundo até pode acabar.

 

 

#Memorial Recantista#