Atravessamentos

Me chamam de visceral

E eu tenho isso em mim

É que eu me expresso depois que coloco os dedos na boca

Enfio eles na garganta

Até provocar a ânsia

O vômito vem voraz

Como aquelas tempestades de verão

Vai atravessando o caminho apertado

Varrendo com tudo que tem pela frente

Até o estômago ficar vazio

Até as ruas ficarem serenas

Depois da chuva os cães voltam a ladrilhar

Depois do vômito eu volto a esperançar

Sensação de alívio

E um alerta para o que estava digerindo

Tem palavras, ações, afetos que rasgam o nosso ventre

E envenenam um pouco

Não caem bem

A vesícula não dá conta de processar

E a conta vem

Nos ensinando algo sobre trovões, ira, desenganos, desentendimentos, desilusões, e cães

Esses, quando gostam enfrentam até a chuva com você

Aprendi a pular nas poças de água e me molhar completamente

Depois tomo um banho quentinho

Passo um creme com cheiro de mel no meu corpo

Tomo um chá

O estômago melhorou

A chuva passou

Eu me acolho e compreendo algo mais

Consigo enxergar por um prima

Um filme de todas as minhas escolhas, ausências e enfrentamentos

Limpo tudo

Lembro sem ter ressentimento

O organismo volta a funcionar

Com leveza

Assim como o clima que fica quando as águas cessam

Alívio

Das víceras ao algodão

Do caos à paz

Andando numa corda

Atravessando a jornada

Bárbara Rosa
Enviado por Bárbara Rosa em 05/03/2024
Reeditado em 05/03/2024
Código do texto: T8013382
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