duas lenhas parecidas

Quando marchamos ao encontro de um amigo,

não é só que pisamos, mas um tecido de sonhos e sombras.

Abrimos a porta – não uma porta comum, mas um portal

para abismos onde a luz devora toda sombra de violência.

No sótão da alma, na câmara secreta do ser,

habitam monstros e deuses, memórias que nos elevam e destroem.

Cada passo rumo ao amigo é uma peregrinação,

através de florestas internas, onde árvores sussurram segredos

sob o vento que anuncia tempestades e renovações.

Nas entranhas, um tumulto de lembranças ainda sangra,

carvão não consumido, sementes de escuridão inexprimíveis.

Nossa presença – um esforço para ser, para emergir

da noite escura ou da claridade que nos define.

O caminho do amigo, marcado por rios de tempo e memória,

onde o azeite da vida corre, paralelo e indiferente,

um espelho que não perturba nem consola.

Desejamos na ausência, anseiamos na plenitude,

prontos para gritar, para quebrar as amarras do pensamento,

pratos rachados cantando velhas canções de esperança e desespero.

Esperamos por tempos novos, por um dilúvio que nos renove,

por portões que se abram para jardins onde ninfas oferecem

a chama da vida, uma viagem através de sensações ardentes,

na borda de um abismo preenchido pelo vazio.

Descemos, então, ao encontro, onde o amigo, talvez,

já conheça as distorções deste poema, talvez já tenha aberto

suas próprias portas para o inverno e o fogo de suas cavernas.

Caminhamos pelas ruas, uma multidão dentro de nós,

encontrando outra multidão,