Vendo-me

Vendo-me , pelo alívio da luz,

ou pela forma da noite.

Vendo-me de casaco e sapatos pretos,

com poemas etéreos na algibeira.

Vendo-me desconfessado do pecado,

Vendo-me por nada que substitua o tempo.

pela controvérsia do sentimento.

por fogo, que ferva a água

por ardor que enfole o grito.

por semente que cresça o peito.

por palavras que imitem vida. por uma palha,

por um seixo que me couracem a alma,

para ver e não olvidar o que do mundo sinto.

pelo poema, pela voz, país independente.

Nesta inobilissima cobardia,

lamento, o que me compra o que vendo:

a vida ,

vade retro tanto lucro.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 03/01/2008
Código do texto: T801830