a forma

Em passagem única, não nasce a forma.

É preciso, em ritual,

Pisar e repisar o mesmo chão,

Terra e cascalho sob os pés,

Antever o fim desejado—

Mas, será que ao repetir a receita do pão

Nos encontramos sempre na mesma fornada?

A paciência, essa feiticeira,

Sussurra que a forma,

Para verdadeiramente ser,

Deve acolher não só o espaço de passagem,

Mas a caixa profunda das almas,

Aguentar chuva, sol inclemente, a lua mais escura,

E o sol que queima sem perdão.

Para ser forma, a estrada,

Deve acolher o viajante ilustre

E o novato com igual abraço,

Pois todos, em meu pensamento,

Rumam para um descampado celeste,

Um lugar de observação,

Onde, mesmo sem entrar,

A forma é testada até que o caminho

Se ilumine,

E o futuro nos alcance

Mesmo sem ter sido plenamente conquistado.

Que outros tenham passado,

Experimentado, narrado,

E se não chegaram,

São apenas almas perdidas,

Porque a estrada venceu muitos,

Não por perigos ou arrogância,

Mas porque a forma não se rende

A meros passatempos.

Exige implicância, persistência, desejo,

Para que, em sua largura,

Acomode tanto a ti quanto aos teus fantasmas.

A forma não se entrega sem luta,

Ainda que a graça a acompanhe.