A Poesia Lúcida do Desespero

to com saudades de mim mesmo...

hoje levei rosas ao funeral onde me vi na cova, da obrigatoriedade...

poetizando o silêncio, me desfaço em águas infinitesimais...

sorrir seria um sacrifício, talvez o último...

o dia se levantou como sempre, eu nem ouvi os sinos dessa nova era, desse tempo desajustado, dessa face contorcida...

Às vezes me ponho a lograr pensamentos que estão além da minha materialização, ou elucido minha alma com versos que criaram o existir, que desfizeram a aliança da morte, que desfiaram o fio tecido pelos anjos...sei lá...

haviam dois mundos no espelho, e só um caminho seguro

haviam poemas nos olhos de uma alma que corre nos campos

abria-se a porta da frente e se encontrava um paraíso esquecido

havia uma luz que entrava na casa e iluminava a alma que jazia, sentada, sem cor

um dia a solidão se mostrou entre as ruas

e descobri que ela está aonde estão todos

uma primavera brota, e eu preciso dizer que amo

ou preciso amar pra dizer, ou entender... simplesmente buscar

prescruto o céu, e Ele sabe que o busco

O interrogo, tomo pra mim as dores da minha era

não pode simplesmente sorrir, não é apenas seu afago que quero

Ele sabe que choro as lágrimas da minha geração

quando pintou esse quadro, cada pigmento, cada traço

materializou a fé, o abstrato, o incompreensível

temo não ser o bastante, mas não me nego

ser fiel ao meu coração!!! eu preciso caminhar por entre as portas entreabertas

elucidação, erudição... não importa

eu preciso do abraço infinito, dos braços da eternidade...apenas!!!

sinceramente, sinto-me vazio, vazio de mim mesmo

sinto uma orfandade de existência, ou de insistência

lacrimejo sonhos que beiram a ilusão

não encontro palavras, mas elas me acham, assim, aturdido

vou inflamando por esse caminho ardente

um anjo que habita o jardim, em retalhos

buscando uma doce flor que possa dar algum sentido

pra esses dias desolados, por serem a prova de minha humanidade

eu me calo ou me questiono?

abruptamente, torno-me chuva, assim dissolvendo-se

me dou como brisa a essas minuciosas sílabas eternas

sóbrios encantos mais antigos que o proprio existir

devem haver novos sonhos

jogados pelos mundos da existência

presinto o existir de um brando afago

e então me entrego, ofegante, às notas dessa ilustre presença... musical

minha dor me traz de volta desse suspiro

um calafrio, apenas... deserto, ou imensidão?

sou assim, feito de lágrimas, alma de vento

indo em direção ao mar, novamente...

não é tristeza, mas triste dia se levanta,

frente à aurora de delicadas manhãs

delicadas notas de imensidão suavemente desfazem as tranças do tempo

nesse movimento quase linear, as ondas se acalmam

os antigos símbolos e as antigas canções ecoam pela estrada

a doce inocência, então suprimida, tenta agarrar-se à pele

descobriram nas suas curvas o subsídio pro pecado

desfilaram frases que encantavam os mares

mataram os dragões de seus pesadelos mais profundos

mas faleceram frente aos erros de seus proprios passos

era uma criança quando ouvi esses passos no porvir

essas asas de sonhos, batendo contra a realidade

era apenas uma criança vinda da dor, pela dor... a dor

essa marca que minha inumanidade cicatrizou

disseram pra mim que Deus não existia

que era uma invenção de nossa mente

como não me sinto tão criativo hoje,

não vejo porto seguro, ou mesmo alusão a minha luta

ah, eu posso ver a princesa da lua

irradiando beleza nessa entropia fatídica e quase inspiradora

politicamente doando-se a terra e cobrando o preço de vida

sentindo o odor do medo sem rosto

aquela porta do lado do sol, ainda fechada, se abrirá

e esses raios deslizam em minha face

eu, aquela lágrima nos olhos daquele que a tudo vê

o traço desfigurado...

breve existência!!!