Negando-se a carne...

Negando-se a carne

Sê, se na farta que mais espera

Sem valer-se de tais e coisas

Sombras soturnas que nem cintilam

Negando-se a vez

O que farta mais se assemelha

E por tais me tomas arrivista

Por tantas culpas sem indução

Negando-se a luz

Mal tateia ao horizonte parco

Que tanto sublimas na alvorada

Por mais que se acumulas

Negando-se o riso

Ridícula é mão que pouco afaga

Transpassa a tarde em meio a vozes

Entorna o lume que te faz farol

Negando-se o silêncio

De toda a cepa que ralha a noite

O mais na valia dos desaforos

Na vertigem incógnita da ilusão

Negando-se a boca

Troça o enfado daquilo que engole

Tépida na ferina que marca por que se consome

Mera sombra daquilo que um dia foi

Negando-se o alento

Mero deleite que se faz passagem

Ápice de fagulha latente e ausente

Falso brilhante que se descolore

Negando-se o gesto

De qual crime que se sentencia

Formas ávidas que tocaram todas as mãos

Esconde-se reclusa, vestida e porta

Negando-se a vida

De tantos doces a boca amarga

Por meras faltas naquilo que cala

Sobram os espinhos, a página em branco

Noutra nau que pouco singra

Na argêntea cor da solidão.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 26/03/2005
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