labirinto

Descer este labirinto, olhos despertos,

caminhando de esquina a esquina, desfazendo perspectivas,

numa guerra para absorver, no peito, o mundo:

despir, camada por camada, buscando alento

na herança da casa grande, onde o tempo estagnava

e o chão, intacto, ainda não conhecia a ruptura

(ah, quando se partiu, que desastre, que glória!).

Guardar o vazio para a hora mais densa,

e sentir o pulso da vida quando a folha mais verde,

enlouquecida pelo sopro do vento, se agarra à mangueira —

por sorte, ou talvez, por não ser ainda sua hora.

Mas, ah, quantas folhas descobrem que o vento

as torna violentamente belas,

transformando-as em formas que logo se tornarão

meros vestígios, silhuetas perdidas que tentamos

capturar com os lábios ou em diálogos fugazes.

Mas deve-se falar do paraíso, um esquecimento

que brota e cresce até que as amarras se rompam;

nossos amores não morrem, e os que atiram pedras

não teriam vez se a felicidade fosse tão arrebatadora.

Mas, no fim, somos esse rio que flui, inunda,

rasga a terra incessantemente até ser devorado pelo mar,

e então, um novo esquecimento.