tempo de aragem

A manhã desvirginada, sol já aberto

Na promessa do dia, o silêncio amarelo a dourar

A casa da frente, a calçada e todos esses anos

Que nos perpassam enquanto a sombra se levanta,

Eu canto essa manhã desejada

Dou-lhe a palavra sacra, os risos que vêm da rua

Da escola, o casal que ainda fala pelos olhos, o ventre

A nos tragar o perfume para algum encontro,

E a imaginação a saber mais que a razão,

Teus olhos marejados de saudades, fruta, cujo gosto

É desse céu a nos dizer as cores da profundeza azul,

E o vazio, onde uma plantação de milho atira para

Alto, verdes folhas, caídas, curvas, caídas, e essa vontade

De dar-lhe um abraço enquanto me sucumbo à sua presença,

Rio de minha vida, da minha existência

Quantos outros rios se fizeram servos, vassalos e fluíram, como essa

Linguagem a dizer o que não se diz, mas ao dançar

Comunica as nuances, esse infinito espírito, espessa

Do tempo, intemporal, a nos transcorrer para uma nova viagem,

Essa manhã, esse bosque de esperança, esse bicho

Cantando e tuas mãos estiradas enquanto a doce vida

Lhe precipita uma passagem, é tempo de aragem,