por que essa arte faço.

Não é pelo bom trato, nem pelo salário que me atiro

à arte, ainda que dela me recomponha, como quem

se reergue diante do mundo — uma tábua outrora

vazia, agora inscrita, mas cuja glória não me urge

como urgência. Esta arte, veja, é para o que está aqui

tanto quanto para o que sobre a terra não lança flechas,

nem curva o arco em artimanha; é para aquele que, ao cair

da noite — ou na noite que nele habita —, não busca remédio

nem cura, mas encontra, talvez, um consolo ao dizer:

"Conheço-te", enquanto o vale, testemunha, se desdobra

em sua majestosa vastidão. Não é pela homenagem,

aquela que só os mortos conhecem de perto, e a tem

com mais respeito, que faço esta arte; mas nela encontro

um modo de pronunciar a vida que vivo, que, quem sabe, também ecoa a tua!