Querida criança.

O jornal começa cedo

Eis a notícia: morre, ainda jovem, a minha poesia

A causa: transformou-se em adulta

Logo o universo ficou cinza, emaranhado de reflexos turvos.

Precisou arranjar emprego, só pagavam um salário mínimo

O que fazer?

Sem mãe, nem pai, nem esosa

Mundo louco e correrias

Entrega de trabalhos com prazos curtos.

O corpo começa a feder, mas a água foi cortada

Então ela se deita de corpo para baixo

E o estômago ronca.

Flores abrem após a tempestade de chuva gelada

Eram elas, as memórias

A única coisa que resta quando torna-se adulto

Vultos de garotas e beijos molhados

Frames de bicicletas com rapazes amontoados.

Eram elas, as memórias, que enxugava as lágrimas da poesia antes da existência ir para o fundo do mar.

A quem pedir ajuda?

Ó Deus, tu que me destes a vida, por que me recusas agora o milagre?

Não finge que não me escuta

Poi os tolos, as adúlteras e os ladrões são bem recompensados, estes sendo tão filhos da puta!

"Não quero pagar agora", diz a vizinha que escutou todo o processo .

Meus versos ficarão aonde?

Para quem darei minha herança?

Que não é dinheiro, nem casa, nem terreno

Mas sim um latente amor que permearia pelos corações humildes e revoltados.

Não grandes lotes de ouro

Mas sim a simplicidade de encarar a vida

A felicidade cultivada após horas encarado as marés e os vendavais.

Ó, jovens, não desistam agora

Há dentro de vocês uma forte vontade de potência

Inserir-se no mundo

Inserir-se nas coisas

Nas plantas e nas bolhas que construímos.

Não há limite para a felicidade

Eu cesso por covardia, e vocês?

- Aqui resta as últimas palavras da poesia

Quem ficará com a herança? - Pergunta confuso o jornalista

Tão habituado a ver brigas por terras

E agora, fecham-se as televisões após ser divulgado como patrimônio um enorme aquário contendo versos e mais versos de amor.

Gabriel Régis feijão
Enviado por Gabriel Régis feijão em 20/04/2024
Código do texto: T8046265
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