Escrever poesia é uma das artes sublimes que os mais sublimes inventaram

Escrever poesia é uma das artes sublimes que os mais sublimes inventaram;

Por isso os mais astutos se aprazem da poesia,

Porque todas essas lamas cotidianas causam menos aflição

Se as peneiramos em busca de lirismo.

Não há mãos mais prodigiosas que as dos poetas.

Uma amada que partiu sem dar adeus, deu ainda a inspiração augusta,

Já a amada que inspira pelo fato de ser amada

É de uma beleza pessoal tão delirante que só o lirismo pode traduzir,

E se há esse delírio, se há essa vertigem transcendental

Somente na poesia se transparece.

Se doutro modo for um amor vago, potencial ou precipitado,

Dar-lhe lirismo é dar-lhe asas,

Sendo alado, voa, e voando pode aliviar o peso.

Escrever sobre a dor…

A dor é sempre impalpável, mesmo que física;

Quem não está disposto a gozá-la não está disposto a ser consciente.

Nenhuma outra raça torna a dor apetecível, senão a dos poetas.

Gozar a dor ou, em outras palavras, viver

É o mesmo que poesia.

A alegria só se torna prazerosa

Quando a fitamos muito além da literalidade fria.

Torna-se triste, quando a enxergamos sem misticismo.

Um beija-flor, por exemplo, é uma imagem alegre;

Quantos não viram nisto um sinal de afeto

(Aquele beijo doce da amada).

Mas vê-lo sem poesia é ver apenas pólen e bico,

Agentes movidos pela brutalidade mecânica da natureza.

Tudo é profundamente triste sem poesia.

O Maior dos poetas é Jesus!

Suas parábolas são pura poesia.

Imagino-O ditando-as com postura complacente,

O tom de voz cadenciado, as palavras milimetricamente escolhidas,

Cada som e cada significado se harmonizando,

Tudo sendo pura poesia.

Ora, não há nada mais augusto que a poesia,

Não há arte mais sublime que a do poeta,

E todos que se aprazem da poesia,

Todos que bendizem os poetas,

Todos esses têm razão.