QUE NEM GRÃOS

QUE NEM GRÃOS

 

Certo dia alguém se vê velho,

Porque lhe disseram quem era,

Mas ele, com olhar meio sério,

Viu que a rocha é mais velha.

 

Quando um povo quer ser longevo,

Diz que sabe o início do mundo,

Mas não sabe que martelo e prego,

São recursos do último segundo.

 

No relógio da vida humana,

Não seremos velhos do início,

Porque o existir é um drama,

Numa peça no pátio do hospício.

 

Se pensarmos acerca do eterno,

Sentiremos que por nada vivemos,

Porque somos pingos no caderno,

Que nem cobrem os is que temos.

 

Ao sermos que nem grãos de poeira,

O que poderemos dizer ante a lua,

Já que lá não tem nem cachoeira,

Quem dirá um riacho ou uma rua.

 

Pelas luas haverão os desertos,

Mas sem vento ou a brisa do mar,

Pois o vento solar é incerto,

Se à frente só houver um quasar.

 

Eu queria a idade das estrelas,

Mas também que fossem colméias,

Pra saber quem seriam as abelhas,

Ou os filhos de Cronos e Réia.

 

Mas nosso tempo é uma filigrana,

Acostada nas cédulas que poupo,

Quando penso ter ouro ou grana,

Mas a vida é uma fábula de Esopo.