Desperdício
Inveja não rima com poesia
mas perpassa a vida...
e, mais precisamente,
ronda o berço,sorrateiramente..
Assim dizem os contos
de fadas benfazejas
amenizando maldições,
assim nos ensinam sortilégios
de antigas tradições...
benzeduras mais secretas.
Antes, privilégio dos príncipes
e princesas
agora se democratizou.
E até o pobre mais pobre
tem algo que o outro quer,
seja um ínfimo bem material
ou um abstrato sentido...
um desejado parceiro
ou, talvez, um olhar perdido
e a capacidade de sonhar...
Mas, isso de merecimento, nem se cogita.
e dizem: "tudo é sorte, tudo é sorte...
esse teve oportunidade"...
no entanto não quer pra si
cada lágrima vertida
no silêncio do malsucedido...
só enxerga o já conseguido
que rebrilha como ouro...
aos seus olhos enfermos...
Assim, se pudesse apontar
o mal que hoje nos habita
e tantos danos provoca,
não hesitaria:
é esse obscuro sentimento
tão pouco analisado...
tão claramente vivido
nas ruas e estradas do mundo..
Mas, seu nome não repetiria
outra vez...
porque não cabe na poesia.
E retira toda beleza
que se concentra no instante
de uma auto-descoberta...
É poeira nos olhos cegos...
luz-própria se apagando,
desde o início.
Total e lamentável,
desperdício...