MOMENTO DE SOSSEGO
Breves instantes, detenho-me em quietude
Ao buscar-me do lado de lá para cá
Em mar calmo de pensamentos e ensejos —
Pelo vasto horizonte das horas em fuga
Algo se desvanece subtil e sorrateiramente
A cada veslumbre do sol que desliza
Sobre meu torso exposto
O eco dos pinheiros é um hino recorrente
De todas as jornadas que padeci —
Então, instiga em mim um frenesi de emoção
E memórias de antanho que prevalecem
No meu duro semblante
Mas sossegam-me as vozes do vazio e do rio
Quando dirigem-se a mim desta feita
Sob forma dum arco de cores e quedas d'água
Na amplidão do dia entre os mananciais
Abraço o silêncio que as pedras guardam
De modos que chegam até mim, tamanhas
Sombras que se mesclam com a copagem
Na delicadeza da aragem em andanças
Assim que o dia finda ao horizonte
E em meio ao silêncio, num breve relance
— Desvendo, vez como nunca
Desvendo tudo o que a vida inscreveu em mim.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.