[ a noite pede silêncio ]
depois de assistir ao filme A morte habita à noite.
A noite pede silêncio para ouvir
o voo dos condenados , o soprar do vento ,
o aterrissar de seus mortos. Quem somos nós nessas
frialdades da vida ?
Esperamos ou não ?
Não olhe para cima. Não agora que seu filho é engolido
pela escuridão de sua poesia sem palavras. Não agora que
sua alma é devastada pela solidão e
enganos. Somos cobaias. Experimentos de algum deus masoquista e cruel.
Ouvimos jazz e blues pela manhã ,
enquanto esperamos pelo café. O sangue já foi servido :
quente e vermelho. As suas vísceras estão expostas em praça pública.
O seu corpo já foi levado.
Sua alma devastada vaga
mente vaga em minha mente como um fantasma
de mim mesmo , como espectros dessa herança maldita.
A noite pede silêncio para ouvir a sinfonia de seus anjos
e demônios. Sambas urbanos batucados com nossos ossos
em crânios. Sambas urbanos batucados com os seus ossos
em nossos crânios. Sirenes de ambulâncias e de policia
cortam o breu de nossos corações em repouso.
Vagabundos ébrios vagam pelas ruas escuras e úmidas
da cidade banhada em névoa.
Sou pó e sombra , rastejo feito serpente , alço voo , adentro
sua mente em pensamentos sombrios. Noturno vagueio pelos
escombros de seus medos , oh cidade que me abraça
e me esmaga , que me engole e me cospe ,
e me atira em meio ao caos dessa solidão sem fim.
A noite pede silêncio para ouvirmos a banda passar ,
E mais um corpo cair do alto desses arranha- céus.
28/IV/24.