A amante de lilás

Ela bateu à porta

E eu estava nu

Dentro de mim mesmo,

Ruminando as desesperanças

Prostituídas pelo gozo

Das arestas da vida.

Grito cravado na garganta

E no peito arfante a ânsia,

Esperei, impaciente, novo chamado.

A voz doce da outra face

Da porta, a chave inerte.

Autômato. Giro sobre gonzos,

A imagem, dentro do quarto,

Roupida em simbaíbas

E coroada de crisântemos.

Em voragem libidinosa afaguei

A negrura de seus cabelos,

Entrelacei o corpo em meu

Peito cálido e suguei-lhe

Os lábios de violeta.

Estendidos em amararílis

E alamandas, amamo-nos,

Faces róseas de rubro molhadas.

E as simbaíbas, em mim

Enlaçadas, traduziram-me o ato

Quando a noite escondeu-se

Na aurora. A vida, de luto,

Desejou-me boa-sorte e partiu:

Eu havia copulado com a morte.

*Poema escrito na década de 1980,antes de conhecer Jesus.

Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 07/01/2008
Reeditado em 04/05/2008
Código do texto: T806519
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