Uma tarde de deleites e eflúvios

Embala-me um perfume intenso e delicado

de flores brancas e copiosas,

ornando uma murta:

árvore baixa, encorpada,

com folhas pequenas, espessas e alumiadas.

Por que uma murta estaria aqui,

na cidade?

Ela largou sua vida pacata,

e, desempenhando um êxodo rural

(chaque, cheque, chuque…),

veio para Feira de Santana.

No entanto, ela é ignorada

pelos moradores e caminhadores urbanos;

somente é aclamada

pelos únicos citadinos que a cultivaram

e por mim, que venero um campo verde e florido,

o horizonte com serras azuis e longínquas

e a vida dos moradores rurais,

especialmente, a fisionomia e a penumbra

de um bom senhor com um chapéu de palha,

uma roupa evolando odor de estrume de boi

e uma enxada escorada no ombro.

Ele, sem dúvida, acalenta suas murtinhas

cultivadas nas cercanias da casa.

Eu, aqui, na cidade,

sou embrulhado pelo aroma único das flores

da murta semeada num canteiro,

no eixo de uma via de mão dupla.

A fim de florescer, um pouco mais,

esta tarde aérea e aromática,

uma boa senhora está sentada numa cadeira

sobre a calçada.

Eu digo: "Boa tarde".

Com uma voz afônica, desarmônica, rastejante,

porém doce e animosa,

ela responde: "Boa ta…arde".

Quão deleitoso é ouvir a voz branda

de um fulano vivo!

Danilo Mascarenhas Bittencourt
Enviado por Danilo Mascarenhas Bittencourt em 20/05/2024
Reeditado em 20/05/2024
Código do texto: T8067633
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