O Desafio da Brisa
Desvio as cortinas
E a manhã cinzenta
Enevoa-me a visão
Como a humidade taciturna
Que paira impenetrável no exterior.
Levanto-me e continuo deitado
Entre o linho temperado do meu corpo
Abate-se sobre mim a modorra das manhãs altas
E tardo na decisão de ir ou ficar
Se fico perco o imperceptível
Do que se passa ao meu redor
Mas que só vejo com o desinteresse
De quem tudo vê de olhos fechados
Se vou enjoo o que cíclico se repete
Na poeira cósmica da realidade temporal
Corroborando a teoria metódica
Das imprevistas sequências
Que por imprevistas são previstos diferentes
Como o sal e a malagueta
Temperam uma receita tradicional.
Decido-me por me afundar nos lençóis
E varrer do pensamento a visão das ideias
Ficando a pairar no vazio do próprio vácuo
Para ser motivo de chalaça
A quem por mim passar
E me vir escondido
No refúgio onde não estou
Visto ter deixado ficar a carcaça
E partido de mãos dadas
Desafiado pela brisa
Que no meu íntimo soprou.
Moisés Salgado