Caldo de cana com banana

“Procuro um verso bacana

em cada rima que eu faço

...

mas o destino me engana

e só me deixa o bagaço.”

(Reinaldo N. Luciano)

“Mas o destino me engana

em cada rima que eu faço.”

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Procuro entender a vida,

a minha sorte, o destino,

aprendo mais do que ensino

e procuro dar guarida

a cada angústia incontida

em cada som, cada passo

em meu viver. Num só traço

eu mostro uma força insana

mas o destino me engana

em cada rima que eu faço.

Eu sou poeta ao acaso

e, caso eu tente escrever

com mais afã, posso ver

entrar a mente em ocaso:

o meu pensamento raso

empaca e mais nada emana,

mas o destino me engana

em cada rima que eu faço,

outro papel eu amasso,

igual se amassa banana.

E retomo essa inumana

e cruel sina: eu escrevo

o que não sei e não devo

imaginar. Ah, sacana!

Mas o destino me engana

em cada rima que eu faço

e logo o meu descompasso

é coisa antiga, é passado.

O meu viver desastrado

escreve logo outro traço

e volto a mim, passo a passo

enquanto a alma se ufana.

Mas o destino me engana

em cada rima que eu faço.

É sempre assim: eu abraço

o que não sei nem fazer.

Faz parte do meu viver

esse vaivém sem parar:

ou sou primeiro lugar

ou sequer ninguém me vê.

Mas o destino me engana

em cada rima que eu faço.

O meu olhar fica baço

igual um caldo de cana,

eu choro feito um banana

e recomeço o meu verso

enquanto não desconverso

e vou pr’outra freguesia.

Ah, meu Deus, como eu queria

existir nesse universo!