ENTRE O PASSADO E O FUTURO (2)

ESPERANÇA

Relembrar-se risonho

enquanto continuo...

(Re)prossigo nos mistérios dos sonhos,

carrego a minha cruz

como uma lesma,

na mesma sinfonia

esperando o dia.

O dia que pode ressurgir

num cântico glamouroso

de vãos devaneios.

Enquanto a esperança

do amanhecer

reconheça a luz

que carrega a cruz dos pesares,

a esperança consiste

num

reabrir de cenários

nos quais se contagia

a lembrança do ontem.

E o dia não chega

porque os prazos já estão no mundo.

A esperança é o único

meio de se chegar além.

No próximo contraste

do ontem,

procura-se chegar anil

na assombrosa lua que

vejo no estertor da sede...

É difícil a esperança,

é difícil a esperança,

deve-se contagiar

com a luz do amanhecer.

MAR DE PEDRA *

Mar de pedra,

é colossal o alvoroço.

Mar de sangue,

o futuro exangue.

Mar de bruma,

viço de pastagem.

Mar de pedra

esculpido pelas

mãos do artista que existirá.

Mar de lua

petrificada em veias,

em sentinelas

do amanhecer.

Mar de pedra

e o caminho seguro

por detrás do muro.

Não mais a tragédia...

Não mais o espirro de sangue...

Mar de canções

a embalar crianças

que hão de crescer.

Mar de amigo,

seguro o chão pelo

qual se caminha.

Mar de pedra

e mais uma

canção.

Mar de linho,

a costura no

trabalho que se aprenderão

além do espinho.

FERNANDO MEDEIROS

primavera de 2005

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NOTA do autor: sobre o sinal (*) no título da poesia MAR DE PEDRA, por gentileza, consultar NOTA em “ENTRE O PASSADO E O FUTURO (1)”.