O que sobrou

Mãos ao vento

Acenando adeus no escuro.

Ninguém nota, ninguém olha

Quando você chora.

“De onde eu vim,

Não há desespero doutor!”

Que me dera ser...

Eu olho pro céu infinito

Sou minúscula

Um nada perdido, consumida

Pelos passos que deixei de andar.

Eu canto o que não sinto

Nesse vasto chão imundo que piso.

E piso pra quê?

Pra morrer... Talvez!

“Não há desespero

Não há dor, não há medo”

Quem me dera ser... dali.

E ver seus olhos negros

Cheios de dúvidas e apelo.

E não há nada onde estou.

De onde eu vim, doutor,

Agora nada restou.

Está tudo assim destruído, em pedaços.

Como eu.

Só se pode, então, viver

E deixar o acaso cuidar do que sobrou.

Cecília Afonso
Enviado por Cecília Afonso em 20/01/2008
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