O Funeral de um Beija-Flor

Um beija-flor descansando no alto de uma mangueira

Procurou as flores ao redor e não as viu.

Sem temer a fome,

Sem temer a sede

Esvoaçou ligeiro ao fio de energia.

Procurou no céu a cor;

Procurou no céu a luz,

Mas encontrou as nuvens escuras.

Estava quente, porém não existia o sol.

Já do alto da luminária...

Em desespero ele olhou

E não viu as flores;

Não viu o sol e agora

Não via o horizonte.

Perdido sem sul nem norte

Ele voltou para o galho da mangueira.

Olhou ao redor e cismou com um brilho

Vindo de uma tampinha de refrigerante.

Ao conferir, que não tinha nada a ver com o que imaginou

Se sentiu entristecido, pressagiando dias difíceis

E quando o mormaço esquentou começou a chover miudinho,

Começou a chover, começou a chover

Começou a chover, começou a chover...

Ainda protegido entre as folhas o beija-flor arriscou

E alçou vôo, e alçou vôo e alçou vôo.

Meio desorientado com o barulho dos carros

E o improviso da chuva pousou em uma janela.

Já cansado e quase sem esperança de encontrar uma flor

Viu alçado no teto lateral de uma casa, uma vasilha de plástico

Com desenho de flores azuis, verdes, amarelas e vermelhas.

Enfiou o seu bico, matou a fome e a sede sugando água com açúcar.

Salvo agradeceu a deus dando varias piruetas na chuva.

No dia seguinte, no dia seguinte,

No dia seguinte e nos dias seguintes...

Ele tomava água com açúcar.

O sol nascia altaneiro,

O sol nascia, mas ele já não ia,

Já não ia mais atrás das flores

Viciado, viciado...

Ele até morava no ap.

Viciado, viciado...

O coitado veio a falecer.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 21/01/2008
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