OS MANGUES DO MUNDO

"- Para vermos o azul, olhamos o céu. A terra é azul para quem olha do céu. Azul será uma cor em si ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul. (Clarice Lispector)".

Estar ausente é um caos no vácuo

Um destino imprudente

Insolvência do suprimento divino

Estar ausente pode ser como a morte

Onde se espera encontrar celeste o inalcançável azul

...dos cosmonautas claricianos...

Ou, como mentir ao indestrutível norte que não há mais sul

Estar ausente é como uma mentira tamanha

De qualquer tamanho, a contundir,

Emergente, com uma elegância urgente

Ausentar é castigo e opróbrio

Ao que ausenta algo de alguém

ou alguém de algo ou algo de algo ou algo de alguém

ainda que no sentido inverso, é um vício perverso

Ausentar-se involuntariamente é tornar-se vítima

sem direito a explicações

e ainda assim ser alvo de danações

Sobretudo envergonha quem não pôde estar presente

mesmo que ao contrário quisesse

Pois se pudesse, estar ausente da ausência compulsória

Sobreviveria eternamente,

ainda mesmo na mente de quem tem fraca a memória,

Latente, mas sempre por fim estanque

No humano onipotente mundo-cão

Dos crânios-semente no mangue do mundo

Daquele porvir enluarado de estrelas

Fora do lugar lhes dado pela Criação

Sarapuí, julho de 2007

Sylvio Carlos Galvão
Enviado por Sylvio Carlos Galvão em 24/01/2008
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