Mulher

Você quer se ver no espelho, arrumar o cabelo, passar um batom nos lábios

De repente vem alguém e diz que tudo isso é errado

Que você foi condicionada a fazer isso desde os 5 anos de idade.

E seu tempo pra isso acabou

Você brincou de boneca e treinou como se cuida de um filho

Deixou a boneca pra aprender a fazer o filho.

E agora, embalando o nenê você pensa naquilo

Que fez e foi incapaz de entender

Mas a vida é mais que um espelho, que um batom, que um cabelo

A vida é cuidar dos filhos, arrumar a casa, fazer mais filhos

Deixar o jardim bonito e ser educada com os vizinhos.

E não importa se dentro de você há um grande vazio:

A sua vida não é sua, é apenas um veículo para outras vidas

E seu marido não é machista, você que é liberal demais.

Sua família, que, nos desencontros do tempo

Esqueceu de te dizer quem é.

Mas te digo: é mulher.

Isso não é tão triste, posto que é mulher que preze

Calada, obscura, atenta aos filhos e às panelas

Cuida do marido como a mãe dele o fizera.

É uma continuação, imitação, temente e discreta

Bonita não é, mas é saudável.

Nunca estudou, mas tem um português correto

E mesmo depois dos 30, não sabe bem ao certo

Como que sai um filho de um sexo

As mulheres que rondam o seu marido

Ah, elas, sim, são belas! Perfumadas, arrumadas, por ele desejadas.

E você é uma figura.

Figura decorativa, apenas para preencher o espaço de mãe

Mãe do marido - que é incapaz de cuidar de si

E mãe dos filhos - que são sua última esperança

Lembre-se mulher: sua memória histórica e cultural

Não passa de uma cantiga de ninar que aprendeu há tempos

E na solidão de seu quarto - os filhos dormem -

Pensa o que faz - são três da manhã - o marido ao relento

Muito trabalho! Sim, muito trabalho.

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 25/01/2008
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