Noturno I
Nas mesas iluminadas dos bares
Mil risos se entrelaçam
Tecendo teias de hipocrisia
Com fios de alegres farsas.
No ar se misturam perfumes importados
Aos odores da fome e da miséria que exalam
As crianças maltrapilhas
Que tudo assiste da calçada.
Nos espelhos dourados e tintos
Dos copos de cristal muito fino,
São as crianças pobres,
Apenas reflexo imperceptível
Aos olhos ébrios de indiferença e vinho.
Cheios de orgulhos e gentilezas
Ali todos brindam
As conquistas que merecem,
Enquanto lá fora,
A realidade de pés-descalços se afasta,
Envergonhada de sua pobreza.
(Antonio Peres Pacheco)