Favela
O mato cedeu,
Ferido de morte,
Sob pés descalços,
Sob golpes de enxadas,
Foices e cegos facões,
Empunhados por mãos rotas e calosas
O mato, grosso, derrubado
Entre condomínios e arranha-céus de luxo,
Abriu-se na marra o espaço em um eito,
Aos sem-teto
E seus retorcidos esteios,
Braços toscos arrancados do cerrado.
Rejeitos de demolição,
Negras mantas, peles de plastico,
Abrigam, de uma hora para outra, velhos sonhos
Resgatados em escombros, em montes de lixo...
Se fazem em rústicos abrigos para vidas rasas.
É assim que nascem as favelas,
Berço e palco de tragédias anônimas...
Que para tantos são menos
Que esquetes de uma comédia bufa
Em que as piadas não têm a menor graça.
(Antonio Peres Pacheco )