Divagações (15)

Ignoro-me.

Ignoro quem dorme ali ao lado

paredes-meias comigo

no sonho.

Noite dentro. Penso. E perco-me de mim

neste enredo. E encontro-me em mim.

E revejo o missal do passado.

Luzes. As luzes agora apagadas.

As armas desengatilhadas. Os jardins.

Os jardins dos sonhos despedaçados

onde se debruçam guitarras do fado

sem cordas, nem carrilhões

partidas.

O espectador um homem.

Um homem sisudo, parado no tempo

vestido de negro, ancorado

neste cais sem cais de abrigo.

Em redor desse homem, tudo negro.

Nada já é iluminado.

A boca arreganhada

ri irónica do sonho que teve.

O cabelo branco, revoltado

sangra inquietações ainda por viver.

Que as vividas escoaram o peito

de tanto sangue verter.

Cúpulas erguidas de igrejas de fé

perdida

caíram de sono, cansadas

de não convencer.

Chagas, mil chagas abertas

lâmpadas acesas, outras tantas mil fundidas

vida apagada

palavras por dizer.

Inquietações. Ossos, veias, artérias…

Para quê este sangue todo

(tanto sangue!)

nestas vidas humanas que amanhã

ou depois

acabam por morrer?!

Perturbam-me estas galerias da vida!

Publicado no Jornal On-line ROSTOS

Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 28/01/2008
Reeditado em 28/01/2008
Código do texto: T836807
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