Divagações (1)
Dói-me a cabeça desta mágoa anónima do mundo.
Suporto esta mágoa anónima
que me magoa por dentro a alma e faz sangrar
mil chagas de mim. Sinto febris as fontes acres
e aládas da vida, enquanto minha cabeça estala
por dentro desta dor alheia que pesa sobre o mundo.
Mesmo que seja temporariamente
é por isto só que minha cabeça dói.
Dói em mim este Universo todo porque não sabe que existo.
E porque não sabe que nunca fiz outra coisa na vida
senão sonhar. Tem sido esse, apenas, o sentido único
da minha vida. Único e vazio!
As minhas preocupações abrem janelas dentro de mim
e o mundo espreita lá para dentro da alma
através dessas janelas em mim abertas.
Por isso mesmo sou espectador irónico de mim mesmo.
Um espectador que goza particularmente
com esta ridicularia de ver que o mundo se diverte
espreitando a vida dentro de mim.
Talvez por isso mesmo eu passe incógnito
como quem abdica de já não querer viver.