Divagações (1)

Dói-me a cabeça desta mágoa anónima do mundo.

Suporto esta mágoa anónima

que me magoa por dentro a alma e faz sangrar

mil chagas de mim. Sinto febris as fontes acres

e aládas da vida, enquanto minha cabeça estala

por dentro desta dor alheia que pesa sobre o mundo.

Mesmo que seja temporariamente

é por isto só que minha cabeça dói.

Dói em mim este Universo todo porque não sabe que existo.

E porque não sabe que nunca fiz outra coisa na vida

senão sonhar. Tem sido esse, apenas, o sentido único

da minha vida. Único e vazio!

As minhas preocupações abrem janelas dentro de mim

e o mundo espreita lá para dentro da alma

através dessas janelas em mim abertas.

Por isso mesmo sou espectador irónico de mim mesmo.

Um espectador que goza particularmente

com esta ridicularia de ver que o mundo se diverte

espreitando a vida dentro de mim.

Talvez por isso mesmo eu passe incógnito

como quem abdica de já não querer viver.

Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 28/01/2008
Código do texto: T836820
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