LÁPIS-LAZÚLI (12)
MINÉRIOS DO AMANHECER
Pelas cercanias do horizonte,
lá guerreiros a defender
o cântico novo de verde-safira...
É somente a voz que mais se admira,
a voz do Criador.
Nos lençóis
dos caminhos,
lá guerreiros das luzes a defender
a coroa divina dos pobres de espírito,
dos que se despojam,
dos desprotegidos pela sorte do mundo.
Lá guerreiros a defender
os minérios que saem brilhantes
das grotas mais profundas
que se encontram ao nível das luzes,
pelas cercanias de um novo horizonte...
No lençol dos caminhos,
basta ouvir, apenas, a voz do Criador...
E cumprir deveras como fazem os guerreiros...
E lá estão eles a defender o cântico de uma nova aliança coma vida...
Pelas cercanias do horizonte,
lá estão os desamparados e os necessitados
e os aflitos que aguardam a redenção.
Os minérios do amanhecer os esperam
pelas mãos dos guerreiros das luzes
que se anunciam serenas e redentoras...
No lençol dos caminhos,
lá guerreiros
de luzes a defender,
pelas cercanias dos novos horizontes,
os cânticos e as alegrias de uma nova vida...
OS NAVEGANTES
Ser mais do que insano,
ser o que o dia nos traz
de engano.
Ser inútil por não ser cigano,
ser areia do dia,
o finalizar contínuo dos anos.
Ser mais do que comédia,
aceitar sem saber o que ser feito,
ser motivo de riso,
ser insano por não aceitar
a si próprio,
ser menos poeta e mais
tirano,
ser aceito como trampolim,
ser mais trampolim e
menos humano,
ser menos sabendo o fim
próximo, quando se obriga o minuto
ser um navegante diminuto,
acenando por todos os lados
no desespero e no desamparo do mar bruto.
PAPAGAIO DE JORNAL
Do jornal amarrotado
barbatanas baratas
se faz maranhão voar?
Da seda fina de papagaios
luxuosos o voar não é
tão desafiante assim...
Mas a criança pobre
faz o jornal voar...
A criança sem humildade
tempesteia no ar a sua vocação.
Fazer voar: Maranhão, Piauí!
Com que linha?
Com que asa?
Com os jornais e com o vento
constante
das periferias...
Que luta de brinquedos?
Os jornais nos quais os mendigos
se esquentam,
os famintos da cultura
e os mendigos da alegria.
E o menino empina e
dança estes giros,
os giros das mãos ditando
os limites.
A linha, o carretel,
o ar benéfico do carrossel
que não despreza.
Do jornal
se faz brinquedo,
e a vivacidade não morre.
Triturado, o menino brinca
como um pássaro impresso.
O céu é azul e o sol no sul se posiciona.
Entardecer... desnutrição no dia,
mas o menino
faz e vai voar.
FERNANDO MEDEIROS
primavera de 2005