A VAIDADE

A dama, poderosa,

mostra no verso

e também na prosa

seu perfil perverso.

Muda, ao sabor da musa,

de nome e de feição;

de imagens usa e abusa,

não se revela, não !

Ela se ajeita e enfeita

com máscaras sem expressão.

Quieta, silenciosa, perfeita,

à espreita de uma razão.

Escreve a vida

com a verdade nova

por si mesma traduzida,

abstida de qualquer prova.

Vanitas vanitatum,

et omnia vanitas,

ao poeta dá ultimátum:

exige ilusões súbitas.

Co’a alma atormentada

enquanto o poema gesta,

depois dele nascido,

seu criador faz festa,

envaidecido.

Mas a realidade é o que resta:

desperta da fantasia sonhada

e vê que tudo é nada...