MARIA

Maria - Garcia Chaves

Acolhida

Tenham, minhas letras, acolhida

no halo do teu universo, teu coração.

Por certo, sossego encontrarei;

tristeza tanta, já não mais terei.

Nada, além disso, te peço:

Um afago, um carinho, um mimo só.

Será, deveras, suficiente

para a alma ferida deste poeta.

Maria 26/01/08

Sobre meus ombros, Maria

repousa, se quiseres, tua fadiga

teus queixumes, tuas dores.

Se eu merece, faz o mesmo

com as alegrias e comemorações

És promessa que me conduz

de encontro à longínqua restinga.

Deixo teus cabelos longos

esparramar sobre meu peito.

Deixo tua vida relaxar

sob os ramos dos meus flamboiãs

mas deixa que eu diga,

para que nunca te esqueças

que faz tempo, muito tempo,

que já aprendi a te amar.

Teu reduto 26/01/08

Embora saiba onde encontrar Maria,

os caminhos até ela são difíceis de trilhar

Nesta noite muda e nevoenta,

só a chuva me remete à imagem dela

Vozes flutuam num cantar indecifrável

nos labirintos do meu pensamento

lembrando que jamais a encontrarei

só pra me punir ainda mais

Penso nela me esperando, tão amável.

Aquela velha e desbotada estação

ruas descalças, manchadas de lama,

paredes respingadas de limo

das chuvas recentes do verão

Ela entoando desconhecidas cantigas

que falam de amores impossíveis

e eu chorando, sorrindo, sonhando

com ela atirada em meus braços.

Regresso 26/01/08

Regressar, regressei, Maria,

da viagem que nunca fiz

só pra te encontrar.

Mas vi teus olhos, Maria,

de um aspecto que só eu sei,

na transparência azul do céu

Eu ouvi tua voz, Maria,

num mistério sem explicação

saída do canto de um bem te vi

Eu vi tua sombra, Maria,

num relance deveras sutil.

Quando a cadente passou.

beijei teus lábios Maria

marcados de forma nítida

na fatia de maçã que mordi

Amo-te 26/01/08

Amo-te sim.

Com o ímpeto dos apaixonados

a obsessão dos loucos

a crença dos fiéis

a retidão dos santos

a inspiração dos poetas.

Amo-te sim.

Com a doçura do mel,

a alvura das nuvens,

o frescor das torrentes,

a ingenuidade infantil,

Amo-te sim, Maria

Se isso não for verdade,

falsidade, garanto, não é.

Pode ser uma ilusão

que persisto sustentar em vão.

Coisas minhas 26/01/08

Em minha vida, Maria

há carnavais memoráveis,

há estórias inverossímeis,

há personagens desaparecidos

há caminhos que não trilhei,

há outros que me fartei

há sonhos que escrevi,

há perdas que chorei,

há lugares que não voltei.

Há tanta coisa, Maria

até três outras santas Marias

A primeira era só uma menininha.

A segunda, o maior dos amores.

A terceira, a mais perfeita utopia.

Todas se chamavam Maria.

Meu cantar 26/01/08

Hei de cantar, Maria

nas manhãs gris ou azuis

lembrando teu rincão distante

de onde o vento traz tua história.

Hei de cantar, eu sei

nos conflitos dos meus sonhos

no rabiscar nas folhas brancas

nas prolixas noites de vigília.

Hei de cantar, me creia,

olhando teimoso o horizonte,

onde delineio teu retrato.

Creia nestas coisas, Maria

mas não lhes ponha paixão

muito menos, suspeição.

Mas com aquele jeito encantado

de quando tu eras menina.

Sinos 26/01/08

Tocam sinos, por ti, Maria

na minha intacta catedral.

e cantam também por ti,

os pássaros da minha invernada.

Saltam das corredeiras só para te ver

os dourados do meu Paraíba.

Cantam-te em consagração,

as crianças do meu passado

e te protegerão para sempre

os anjos da minha infância

que um dia conhecerás

Mais vida 26/01/08

Serei mais vida, Maria

quando tua mão assentar-se

com maciez e ternura

sobre meu peito agitado;

quando teu hálito flutuar

em minhas faces cansadas

trazendo um alento de vida;

quando você, de mansinho,

vier alinhar sua marcha

no mesmo recinto que o meu

pra caminhar ao meu lado

Então serei felicidade

esbanjando tanto sorriso

sobre as relvas das estradas.

Hoje chorei 26/01/08

Hoje chorei, Maria.

São muitos dias de brumas

e meus olhos estão molhados

por não ver o triunfar dos dias.

Aqui parece o fim do mundo

e eu acobertado de tristeza.

Tanto que mais chorei, Maria

e não sei mais o que fazer

pra sorrir como quando eu era

o mais feliz dos cavaleiros

num castelo flamejante

que sempre foi minha vida.

O sol vem pela janela

e não me acende o coração.

O que será de mim Maria

despojado do seu amor?.

Garcia Chaves
Enviado por Garcia Chaves em 12/02/2008
Código do texto: T856210