SOCORRO! QUEREMOS VIVER!

SOCORRO! QUEREMOS VIVER!

Começa a arquejar o pulmão verde do mundo.

Por vezes penso se um dia vai ser só memória

aquele balancear tranqüilo e sereno da ramaria,

ora atiçada pelo vento, ora pelo passeio da macacada.

Anauê acará. Anauê aracema, caapuã, sauá.

Oxalá não veja a humanidade, em lugar desse bucolismo,

o solo seco crestado pelo sol inclemente

e o calor transformar o tesouro verde em palha

e, depois, o ar em movimento carregar o pó

soprando para longe a terra ressecada.

A natureza por ser perfeita é lenta, construir leva tempo.

Quantos séculos de trabalho de nossa mãe

para engendrar toda essa bela trama!

Ao contrário, destruir não demora.

Poucos golpes de machado ou de serra

abatem um soldado da vida nessa Terra.

A azáfama interesseira já fez muita ferida

na preciosa mata onde ainda pia o passarinho.

Não demora a mangabeira vai deixar de existir por lá,

como ela o mogno, a seringueira e o açaí.

Para onde irão as orquídeas e bromélias,

o boto rosa, o pirarucu, a piranha, o caapora

e toda a exuberância verdejante?

Enquanto se dorme nas palhas e não se move uma palha

pra trazê-la ao colo e protegê-la da predação,

estão lá os fazedores de deserto, ambiciosos e inescrupulosos

deserdando nossos filhos e desertando a esplêndida floresta.

E assim, não demora, nas águas da Yara, morada de Irupé ,

o Iguará de asa branca, a lua airaquecê e a estrela airumã

não poderão mais se banhar, tampouco se admirar.

PUBLICADO NA ANTOLOGIA PALAVRAS VERDES - MARÇO DE 2008-CÂMARA BRASILEIRA DE JOVENS ESCRITORES EM PARCERIA COM O FORUM SOBREVIVER - RIO DE JANEIRO