Confissões de amante
Eu sou um anjo
Uma flor, uma doçura,
Um encanto...
Mas me vêem como um demônio
Com fogo debaixo das saias
Esgueiro-me pelas esquinas
Com medo, envergonhada
À caça das sobras
Do carinho do meu amado
Suspiro por um milagre
Do toque de suas mãos
Por um sussurro suave
Um olhar suplico-te,
Um afago...
E me afogo na incerteza
Por receber apenas
O sobejo do seu amor.
Minha vida toda,
Por alguns minutos de paixão, loucura
Desenfreada desinibida,
Um instante de ternura...
Que acabou.
E se vai, junto com o som
Da porta que bate atráz de ti.
Ouço os passos se afastando na calçada
É o meu amor, que se vai;
Aliviado, assoviando
Indo acalantar seus sonhos e seu sono
Nos braços da esposa...
Depois de jurar em meu ouvido
Que sou eu seu verdadeiro amor.
Eu sou apenas dele
Mas sou como uma meretriz,
Não posso aparecer
Pra fazer uma surpresa
Nem ligar no trabalho
Tampouco lhe enviar lírios...
SOU A OUTRA!
Tenho que ter os olhos fitos no chão
Pois a sociedade me condena
Nessa cidade
Pequena demais para minha paixão.
Não sou digna, sou pecadora?
Pobre, vil, desencaminhadora.
O mundo todo contra mim
Eu apenas a favor do meu amado
Disposta, dedicada
Pobre amante não amada
Que dá o corpo, alma,
O frescor de carne jovem,
Os melhores anos de sua vida
Mas recebe apenas
Migalhas de luxúria
Gemidos entrecortados
Um afago no rosto suado
E um ‘até amanhã’ amarelado
É eu sou um anjo, eu sei,
Pois aceito abnegada e passiva
Meu destino, minha sina,
Com uma pontinha de esperança
Que amanhã possa ser diferente...