O circo
O meu coração está prisioneiro,
sob a lona e as cordas do picadeiro.
Sou malabarista de frases e de sonhos,
acrobata em meio a trapézios que oscilam,
equilibrista nos fios da esperança
e domadora das dores que ameaçam.
Nos acordes de músicas já vividas,
vou girando na roda de lembranças
como fumaça de emoções roubadas
e pelas águas dançantes, coloridas,
é preta e branca, sem cor, a minha vida.
Sou animal selvagem com mordaça
entre as grades de ferro, assustada
pela arquibancada em aplausos de ilusão.
Sou a pomba perdida que esvoaça
no palco redondo desta praça,
pela varinha mágica sem condão.
Não sou a luz da platéia animada
nem a rede que promete proteção:
sou apenas palha cobrindo aquele chão.
No final, na realidade que me abraça,
do espetáculo que chora a minha sina,
o circo vai fechando sua cortina
e fujo, sem rumo, pela rua.
Sou a lágrima do palhaço.
Riam os outros no meu pranto sem destino.