O circo

O meu coração está prisioneiro,

sob a lona e as cordas do picadeiro.

Sou malabarista de frases e de sonhos,

acrobata em meio a trapézios que oscilam,

equilibrista nos fios da esperança

e domadora das dores que ameaçam.

Nos acordes de músicas já vividas,

vou girando na roda de lembranças

como fumaça de emoções roubadas

e pelas águas dançantes, coloridas,

é preta e branca, sem cor, a minha vida.

Sou animal selvagem com mordaça

entre as grades de ferro, assustada

pela arquibancada em aplausos de ilusão.

Sou a pomba perdida que esvoaça

no palco redondo desta praça,

pela varinha mágica sem condão.

Não sou a luz da platéia animada

nem a rede que promete proteção:

sou apenas palha cobrindo aquele chão.

No final, na realidade que me abraça,

do espetáculo que chora a minha sina,

o circo vai fechando sua cortina

e fujo, sem rumo, pela rua.

Sou a lágrima do palhaço.

Riam os outros no meu pranto sem destino.

Ida Satte Alam Senna
Enviado por Ida Satte Alam Senna em 15/12/2005
Código do texto: T86216