A DUAS PERNAS DE MIM

ou - Poema para a amada do amanhã -

nela,

a duas pernas de mim,

há meus primeiros passos

mansos, delicados

aprendendo a duras penas

o teu corpo de manhã

ao qual me deito.

E nua,

tão bela esta manhã tão nua

onde me vi nascendo

com ares de quentura

vislumbrando montes, picos pequeninos,

um vale de calafrios no umbigo

tão maternal quanto o delta

que me fez acordar para ser um homem inteiro

a duas pernas de mim...

nela,

a duas pernas de mim,

houve meu penúltimo descanso

impiedoso, abstrato

procurando mãos pelos astros

do teu corpo de manhã

onde me rastro.

E nua,

tão bela esta noite tão nua

onde me vi dormido

com ares de ternura

descerrando sóis, lábios incontáveis,

no negror do céu em loucura

irrequieto como se a cama andar pudesse

a duas pernas de mim...

a duas pernas de mim,

onde dorme o colo do abraço,

há uma mulher nua de manhã

ante meus olhos quase desenganados

a ilumina-la, quase arrependidos, da ressaca.