PRIMEIRO ENCONTRO COM O ANTÓFAGO

Morreram as sílfides numa tarde de verão,

morreram gnomos,

gigantescas tarântulas,

fadas e bruxas,

sapos e rãs.

Morreu Ofélia coroada de flores,

morreu Cristo de espinhos coroado,

morreu a luz nos olhos da infância,

morreu o beijo na boca enrijecida,

morreu o gesto na mancha branca do lençol

e

num adeus

morreram os pés que se perderam.

Morreu o sereno

e o lago noturno está calmo,

sem ondulações

- meu calmo

impossível

impassível

lago inclinado que não escorre -

parece feito de gelo,

um gelo azulado e mole.

E o descobri entre verbenas e orquídeas,

entre gerânios e margaridas,

entre hortênsias e girassóis,

entre violetas.

Descobri o Antófago quando brilhou o primeiro raio de sol da manhã segunda,

cercado por flores e borboletas de aquarela:

COMIA UMA FLOR DE CACTO.

Rubens Faria Gonçalves
Enviado por Rubens Faria Gonçalves em 17/12/2005
Código do texto: T87290