CEREJAS E BOLINHAS DE LICOR ADOCICADO

A caça e o caçador

a flor de sangue no lago

o trago de nostalgia

a agonia no tiro

o giro no carrossel

o fel no fígado cru

o nu no palco do meio

o seio jorrando branco

o tranco no trem de aço

o passo passando lento

o vento ventando forte

o porte virando arco

o marco no mês de março

o laço de couro duro

o muro na casa grande

a glande numa fimose

a simbiose na relva

a selva dentro do olhar

o mar de suor na cama

a chama azul na areia

a sereia na calçada

a chupada no pescoço

o osso do lobisomem

o homem e a mulher

a colher sobre a mesa

a moleza sem vontade

a saudade dum segundo

o mundo de água e terra

a guerra queimando o trigo

o abrigo do lençol

a farol sobre o touro

o soro dentro do tubo

o adubo na raiz

a matriz e a filial

o sal secando no chão

o pão seco na toalha

a mortalha amarela

a passarela das ruas

a pua furando a cruz

a luz caindo ao lado

o mago perdendo a força

a forca sobre a madeira

a bandeira do país

o aniz dentro da bala

a fala sem a garganta

a manta cheia de traças

a caça e o caçador.

Eu fico a comer cerejas

e bolinhas de licor.

Rubens Faria Gonçalves
Enviado por Rubens Faria Gonçalves em 18/12/2005
Código do texto: T87374