CEREJAS E BOLINHAS DE LICOR ADOCICADO
A caça e o caçador
a flor de sangue no lago
o trago de nostalgia
a agonia no tiro
o giro no carrossel
o fel no fígado cru
o nu no palco do meio
o seio jorrando branco
o tranco no trem de aço
o passo passando lento
o vento ventando forte
o porte virando arco
o marco no mês de março
o laço de couro duro
o muro na casa grande
a glande numa fimose
a simbiose na relva
a selva dentro do olhar
o mar de suor na cama
a chama azul na areia
a sereia na calçada
a chupada no pescoço
o osso do lobisomem
o homem e a mulher
a colher sobre a mesa
a moleza sem vontade
a saudade dum segundo
o mundo de água e terra
a guerra queimando o trigo
o abrigo do lençol
a farol sobre o touro
o soro dentro do tubo
o adubo na raiz
a matriz e a filial
o sal secando no chão
o pão seco na toalha
a mortalha amarela
a passarela das ruas
a pua furando a cruz
a luz caindo ao lado
o mago perdendo a força
a forca sobre a madeira
a bandeira do país
o aniz dentro da bala
a fala sem a garganta
a manta cheia de traças
a caça e o caçador.
Eu fico a comer cerejas
e bolinhas de licor.