CASEIRO

Dentro de mim

há roupas desarrumadas,

uma cerveja meio resfriada,

um livro lido no criado-mudo

e plantas esperando fecundidade.

Dentro de mim, a casa,

aquela que abriu as portas

aos filhos que a mim tornam

sem sonhos, livros ou criados,

estenderá cobertores ao cansaço.

Dentro de mim, há uma casa

onde se perde um bicho avesso

ao peso preso do ventilador em fúria

que congela cerveja e aquece o violão,

enquanto o amor não puder beber ou cantar.

Lá, bem dentro dela,

a cozinha virou salão de baile,

os pés dançam mofados pelos tapetes

e os dedos, com frieiras, se aprumam na escada

desequilibrada que caiou a paz do jardim ao quintal.